Aos 69 anos, aposentada abandona ‘zona de conforto’ para se dedicar a treinamento de alta intensidade

Foto: Rafael Furtado/Folha de Pernambuco
Manter-se saudável e aproveitar a vida enquanto está longe dos 80. Assim, Lizete Rebordinho dos Santos, de 69 anos, resolveu entrar para o crossfit, treinamento de força e condicionamento físico baseado em movimentos funcionais, feitos em alta intensidade e que vem ganhando cada vez mais espaço nas principais capitais do País. Moradora do bairro do Espinheiro, na Zona Norte do Recife, a economista aposentada do setor público estadual explica como surgiu o interesse pela atividade, há quatro meses.
“Meu filho achava que eu precisava de alguma coisa mais forte, mais enérgica. Embora eu tivesse medo de não aguentar, resolvi tentar e gostei. A localização (da academia, a Vikings Crossfit) ajuda, porque é perto. Não tinha desculpa para não fazer. Eu faço pilates algumas vezes na semana, mas queria algo que me ajudasse a combater essa gordura abdominal. Para adquiri-la é fácil, mas perder é complicado”, disse Lizete, que agora se sente melhor depois de ter largado a “zona de conforto”.
“O ambiente, o exercício faz a gente melhorar a memória. Não ficamos naquela dolência de ficar no sofá assistindo TV. Ocupamos o tempo com algo que mexa o corpo e a mente. O exercício rigoroso é mais interessante do que outro mais lento. Pode produzir um efeito melhor e mais rápido. Era isso que eu queria. Tenho que aproveitar enquanto estou longe dos 80”, falou às gargalhadas.
Em poucos meses de treinamento, dona Lizete está cheia de disposição e não se sente mais cansada com tanta facilidade. Rodeada de jovens nos treinamentos, gosta da convivência com os mais novos e diz ser inspiração para muitos deles.
“A convivência com os mais jovens me ajuda e eu acabo ajudando os que estão com preguiça. Para as pessoas de mais idade é bom conviver assim. Eles me apoiam, me dão os parabéns quando faço os exercícios. Acabei me tornando a mascote aqui na academia”, falou ela, que aproveitou para deixar um recado àqueles que veem o tempo passar e não gostam da prática de exercícios.
“Tem que encarar! Cada vez que vamos adiando fazer exercícios perdemos a mobilidade, engordamos. Com a prática das atividades, a gente melhora o astral, deixa de ficar angustiado com os pequenos problemas e absorve mais as coisas boas. Melhora a circulação, o raciocínio e dá um basta na canseira, na preguiça. A convivência com outras pessoas atrai coisas boas”, finalizou a senhora, reforçando que a realização de atividades esportivas independe da idade.
Dicas, riscos e cuidados para prática da atividade
Estar em movimento é importante e o corpo agradece, mas cuidados devem ser tomados por quem pratica e acompanha as atividades físicas, no caso, os treinadores, fisioterapeutas e médicos. Ainda mais quando a prática envolve pessoas da terceira idade, mais suscetíveis a lesões. A ideia não é desestimular a realização dos exercícios, mas fazer o alerta com objetivo de evitar o surgimento de sequelas.
“Terceira idade não é uma questão de doença. Só quer dizer que o tempo está passando para nós. O cuidado que precisa haver é não ultrapassar os limites que o seu corpo está dizendo que aguenta. Fazer as progressões, moderar nas cargas e sentir a resposta do corpo, treinar e sentir-se bem. Na medida que for melhorando, pode ir evoluindo no treino, assim como fizemos com dona Lizete. Quando ela chegou, tinha movimento que não fazia. Fizemos uma progressão, e hoje em dia ela já faz todos os movimentos que passamos na sala”, afirma Fernando Fontelles, head coach de Lizete Rebordinho.
A carga de exercícios trabalhada pelo aluno é preponderante para a prática segura do crossfit, visto a intensidade da atividade. Mesmo assim, o fisioterapeuta Dayvisson Marques, especialista em fisioterapia manual e saúde integrativa, analisa com cautela o ingresso neste tipo de treinamento. “A atividade pode ser lesiva, se apresenta muita ou pouca carga, caso o corpo não esteja pronto”.
O profissional vai além na análise. Segundo ele, pode desencadear surpresas desagradáveis. “Não só no ambiente das lesões musculares e articulares”, explica, alertando para o surgimento de patologias degenerativas. “É comum que aconteça com o decorrer da idade, principalmente quando é uma estrutura corporal que já apresenta predisposição para isso”, frisa Dayvisson.
O acompanhamento profissional é fundamental e indispensável. E na ocorrência de eventuais incômodos no corpo, um ortopedista também deve ser procurado. “Importante para que possamos detectar a lesão no começo e evitarmos um problema maior”, esclarece o médico Túlio Porto. “Sem supervisão, há o risco de ter lesões articulares”, relembra, sem deixar de reforçar a necessidade de realizar periodicamente os exames cardiológicos.
Fonte: Folhape