“A gente observa que, nas últimas décadas, está havendo um aumento considerável da população idosa. Segundo o autor Renato Veras, a cada ano, 650 mil idosos são incorporados à população brasileira”, atestou o fonoaudiólogo e sanitarista Avelino Maciel. Esta foi uma das premissas que embasou o profissional de saúde a dar início à própria tese de mestrado. O documento, cujo tema é “Prevalência de Depressão e Fatores Associados em Idosos Assistidos em Serviço Especializado Geronto-Geriátrico”, foi defendido ainda neste mês e propôs-se a investigar as características sócio-demográficas dos idosos e, consequentemente, a criar um perfil daqueles que possuem acima de 60 anos.
A população analisada para compor a pesquisa é formada por 301 idosos que foram atendidos, entre 2006 e 2010, no Núcleo de Atenção ao Idoso (NAI), vinculado à Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). “A prevalência de depressão nesses idosos era de 16%. Isso prova que a população ainda vai envelhecer bem mais e esse número poderá aumentar. Essa porcentagem mostra que a depressão é uma epidemia silenciosa e que, se não for diagnosticada precocemente, pode atingir grande parte da população”, frisou Avelino. Ainda de acordo com o estudioso, o perigo ainda aumenta, pelo fato de a patologia não apresentar muitos sintomas. “Por causa disso, o idoso costuma não perceber que está com depressão e, os médicos, por sua vez, relacionam a doença como algo normal no envelhecimento. E não é normal”, complementou.
O fato é confirmado pela cardiogeriatra do Instituto de Medicina do Idoso (IMED), Laura Mendonça. “A depressão não faz parte do processo de envelhecimento. Ela precisa ser cuidada e, para isso, há tratamentos, que podem ser administrados com medicamentos ou psicanálise”, frisa. O mais comum é o uso de remédios, visto que, conforme a médica, o idoso não é muito a favor de fazer análise. “Além do mais, com o remédio, você já consegue perceber uma mudança de comportamento do paciente em uma média de 21 dias”, complementou.
As causas da doença, por sua vez, não são definidas. Mas há certos fatores que contribuem para a depressão. “Tem o fator social, o biológico e o genético. Alguns pacientes não conseguem mais realizar certas atividades, por exemplo, ou o corpo vai se modificando, com a idade. Além daqueles que já têm uma predisposição genética”, explica Laura. A perda de um ente querido, como um filho, também pode incitar o processo depressivo, conforme a cardiogeriatra. Deste modo, como a pesquisa de Avelino, revela, apesar da doença não ser inerente à velhice, ela é comum. “Cerca de 15% da população brasileira já sofreu algum tipo de sintoma depressivo, que é a perda do prazer por algo que você costumava gostar de fazer”, explicou Laura Mendonça.
PERFIL
Ainda de acordo com o autor da tese, Avelino Maciel, a maior frequência de idosos que possuem essa doença – tendo como base as pessoas entrevistadas por Avelino – é no sexo feminino, indivíduos com idade entre 70 e 79 anos, analfabetos ou que tenha até quatro anos de escolaridade, e idosos que vivem em lares multigeracionais. Associado a tais características, segundo Maciel, há três grandes questões que, geralmente, levam o cidadão mais velho ao quadro depressivo. “Aqueles idosos que costumam admitir que a saúde é negativa; os que se dizem com uma saúde inferior à dos outros; e os que possuem alguma deficiência auditiva que os impede de se comunicar. Isso os leva à frustração e, consequentemente, à depressão”, frisou o fonoaudiólogo.