‘Ele é o meu filho mais velho’, diz pecuarista que ‘adotou’ idoso em MS

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Agora em um asilo, o senhor de 84 anos diz que o ex-patrão é o pai. O que eles mais desejam é saúde para ambos.

Prentes Ladislau e o idoso que adotou como filho há 30 anos. (Foto: Nadyenka Castro)
Prentes Ladislau e o idoso que adotou como filho há 30 anos. (Foto: Nadyenka Castro)

Eles não recordam a data exata, mas dizem que se conheceram há cerca de 30 anos na fazenda de Prentes Ladislau da Silva, 78 anos, em Brasilândia, a 399 quilômetros de Campo Grande. Nestas três décadas, a relação do pecuarista com Mário José de Souza, 85 anos, evoluiu de patrão e empregado para pai e filho. “Ele é o meu filho mais velho”, brinca Prentes.

E como pai, Prentes passou a cuidar de necessidades de Mário José que dificilmente seriam notadas por um empregador. “Levei a médicos, a dentistas, aposentei ele e quando vi que ficar na fazenda poderia ser perigoso para ele, o trouxe para o asilo e sempre estou com ele”, resume o pecuarista.

Mário José tem no corpo as marcas da idade e do trabalho braçal. Anda e fala com bastante dificuldade, mas entende o que lhe é perguntado e lembra de nomes. Diz que nasceu em Minas Gerais, não fala sobre a família e agradece a Deus pela adoção de Prentes. “Foi Jesus que fez ele me ajudar”, fala, apontando uma das mãos para o céu.

Mineiro de nascimento, Mário tem o improvável apelido de baiano, e quando o pecuarista se refere a ele pela maneira carinhosa, o olhar distante se volta para os olhos do pai e abre um sorriso. A troca de olhares termina com o filho emocionado. Ao limpar uma lágrima, diz: “Ele é o meu pai aqui”.

Mário José foi levado para o Asilo São João Bosco há aproximadamente 10 anos. De acordo com Prentes, ele teve problemas de saúde e a orientação médica foi não deixá-lo na fazenda e em qualquer outro local que pudesse se perder.

Tempo juntos
O pecuarista não está todos os dias com o idoso que escolheu para cuidar, mas a preocupação e os cuidados são diários. “Sempre que estou em Campo Grande venho visitá-lo, levo ele para passear, a gente conversa, trago bolachas e a erva-mate que ele gosta. Todos os dias lembro dele e o coloco nas orações”.

Prentes Ladislau sofreu um acidente com cavalo no início do ano, ficou cinco dias em uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) e por um tempo não pode visitar baiano, mas mandou representantes. “Minha mulher e a funcionária lá de casa vieram visitá-lo e pedi para ninguém contar do acidente. Fiquei preocupado com a reação dele. Gosto muito dele”.

Mário José, o baiano que nasceu em Minas Gerais foi adotado pelo ex-patrão. (Foto: Nadyenka Castro)
Mário José, o baiano que nasceu em Minas Gerais foi adotado pelo ex-patrão. (Foto: Nadyenka Castro)

E quando as lembranças do tempo em que ficavam na área rural são contadas, ambos não escondem a alegria, o sorriso sai fácil e Mário José resume. “Ele me ajuda e eu ajudo ele. É o meu pai”.

Prentes acrescenta. “A gente se ajudou. Eu nunca abandonaria ele”. O que Mário e Prentes mais querem nesse e em todos os Dias dos Pais é que Deus dê saúde aos dois para que possam ficar próximos por muitos anos.

Pai e filho aproveitam o tempo que passam juntos relembrando as histórias da fazenda, atualizando notícias dos conhecidos e vez ou outra, Prentes leva Mário para comer churrasco. “Ele gosta de carne. Um dia até perguntaram se ele não iria passar mal por causa da costela que comeu”.

Responsável pelo Asilo São João Bosco, a irmã Fausta Costa Passionista  afirma que a relação de Prentes e Mário é de pai e filho e que o carinho entre ambos é exemplo. “Isso é muito importante para o vô e para a vó. Eles se sentem queridos. Muitos são abandonados pela família”.

Fonte: G1