Moradia será baseada no modelo de ‘cohousing’, em Campinas. Grupo tem 65 pessoas. Geriatras defendem que a iniciativa ajuda a prevenir depressão, demência e outras doenças.
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Insatisfeitos com o estilo de vida resignado da maioria dos idosos brasileiros, um grupo de 65 pessoas formado por professores aposentados da Unicamp decidiu construir uma moradia coletiva em Campinas (SP). O motivo? Eles querem envelhecer juntos e afastar o sentimento de solidão. Geriatras defendem que a ideia ajuda a prevenir depressão, demência e outras doenças.
“Este tipo de iniciativa melhora a qualidade de vida e, consequentemente, reduz a quantidade de hospitalização e aumenta a expectativa de vida”, afirma a geriatra e consultora de medicina preventiva Sathie Kamizono.
Para os educadores, morar em um lugar em que as pessoas se dão suporte até o fim da vida, “é uma forma de dar continuidade à autonomia”.
”Minhas filhas e e meu filho adoraram a ideia, dizem até que ficarão mais tranquilos por eu e minha esposa [69 anos] estarmos morando próximo aos amigos, num lugar que construimos especialmente para aproveitar esta fase da vida”, conta o ex-professor Bento da Costa Carvalho, de 71 anos.
Após Carvalho, que lecionou na Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) e atualmente é membro da diretoria da Associação de Docentes da Unicamp (Adunicamp), saber que, sem nenhuma outra opção, uma colega estaria indo morar numa casa de repouso, ele começou a estudar sobre a questão de moradia para pessoas na terceira idade.
“Eu e uma amiga começamos a procurar casas de repouso para recomendar e não achamos nada que fosse minimamente recomendável”, recorda o professor.
O descontentamento fez os amigos irem mais a fundo na questão e a partir disso conhecerem os modelos de “cohousing”, um tipo de vila comunitária arquitetada para haver espaços de convívio social, proporcionando a experiência de viver em comunidade de forma intensa.
Além dos professores aposentados, também integram o grupo funcionários da Unicamp da ativa, ex-alunos e amigos convidados.
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Convívio social intenso
Denise Bertóli, professora aposentada da Faculdade de Letras da Unicamp e integrante do grupo de futuros moradores do local, tem 65 anos e vê na iniciativa uma chance de resgatar a humanidade das relações e o espírito coletivo.
“Quando se envelhece e, consequentemente, se sai do mercado de trabalho, você percebe o quão solitário e individualista é nosso sistema. Com a velhice, a solidão é um problema que acaba afetando a maior parte das pessoas”, afirma a professora.
Denise acredita que as relações sociais saudáveis melhoram a qualidade de vida dos idosos e acaba evitando até doenças e sintomas físicos. E ela não é a única. A geriatra Sathie Kamizono concorda que a convivência social e a participação na comunidade é um fator decisivo para a prevenção de depressão, demência e doenças cardiovasculares.
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”Todo mundo pra quem contei achou o projeto superlegal e interessante. Acho que a parte mais complexa agora será colocar toda convivência em prática, já que essa não é a forma com que nos relacionamos normalmente em nossa sociedade ”, conta Denise.
O projeto da “cohouse” do grupo já está em andamento e a construção está prevista para ficar pronta nos próximos dois anos e meio. Bento e Denise afirmaram que no mês de março uma comissão executora foi fechada e as medidas do projeto, como escolher o terreno, já estão sendo colocadas em prática.
Modelo surgiu na Dinamarca
A proposta de ‘cohousing’ inclui um envolvimento dos moradores desde a projeção da vila até o gerenciamento das moradias. O modelo surgiu na Dinamarca e se disseminou nos Estados Unidos e Canadá.
O ponto-chave da moradia coletiva é a interação social. Por esta razão, espaços comunitários como hortas, varandas e salas coletivas para refeições tomam boa parte da atenção dos planejadores.
O projeto arquitetônico da vila será desenvolvido pensando no grupo etário (idosos), ou seja, terá acessibilidade e itens de segurança que poderão minimizar o risco de quedas e fraturas, por exemplo.
“Por volta dos anos 2000 começam, na Europa, as comunidades para a terceira idade, especificamente para aqueles que têm mais de 55 anos”, afirma Carvalho.
O professor acredita que a Vila Conviver, como foi nomeada, será a primeira cohousing direcionada a pessoas da terceira idade no Brasil.
* Sob a supervisão de Patrícia Teixeira
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Fonte: G1