Eventualmente recebemos no consultório pacientes desolados após receberem a noticia pelo médico de que têm desgaste da cartilagem do joelho, que o problema é progressivo e irreversível e que a única forma de melhorar a dor seria com a colocação de uma prótese.
Afinal, a prótese é realmente necessária? Pode ser feita mesmo com idade avançada? Qual o risco de rejeição? Vai melhorar a dor?
Para o paciente que esteja considerando a colocação da prótese, é importante que todas estas questões sejam respondidas. A partir disso, poderá tomar uma decisão, já que a melhor pessoa para determinar se chegou ou não o momento de fazer a cirurgia não é o médico, mas sim o próprio paciente.
Vejamos cada uma destas questões:
A prótese é realmente necessária?
A dor no paciente com artrose do joelho é bastante variável, e não é incomum que pessoas com artrose avançada consigam realizar atividades físicas de impacto como corrida ou futebol com razoável conforto.
Desta forma, é importante que se certifique de que todas as possibilidades de tratamento não cirúrgico tenham se esgotado, mesmo em casos de artrose avançada.
A dor é uma sensação bastante subjetiva, e ninguém melhor do que o próprio paciente para saber se ela justifica ou não uma cirurgia deste porte. ]
Enquanto a dor permite ao paciente manter uma rotina relativamente normal com grau razoável de conforto, o tratamento não cirúrgico é a melhor opção.
Agora, quando se deixa de realizar atividades profissionais, domésticas ou recreativas em função da dor no joelho e as outras opções de tratamento já tenham se demonstrado ineficazes, a balança passa a pender mais para o lado da cirurgia.
Afinal, nada pior para a saúde geral do paciente do que o sedentarismo.
Outras variáveis também devem ser consideradas: Qual a expectativa do paciente? Quanto empenhado encontra-se o para passar pelo processo de reabilitação? Qual o suporte que terá de familiares ou cuidadores durante a recuperação inicial?
O melhor momento para a cirurgia será, de fato, o momento em que o paciente avaliar que chegou a hora.
A prótese pode ser feita mesmo com idade avançada?
A prótese de joelho é um procedimento destinado a pessoas idosas, e o médico deve se preocupar mais em fazer a cirurgia em um paciente de 50 anos do que em outro de 75. Ainda assim, não deixa de ser uma cirurgia de grande porte, que envolve certos riscos.
Mais do que a idade cronológica, é importante que se avalie a saúde geral do paciente e, principalmente, a função cardiovascular.
Durante esta avaliação pré-operatória, caso se verifique que o risco é elevado, o médico pode recomendar contra a realização da prótese.
Qual o risco de rejeição?
O problema principal não é a rejeição, mas sim a infecção que pode ocorrer no local da cirurgia e que exige a retirada da prótese.
É de fato a complicação que mais assusta os cirurgiões, podendo acometer entre 1 e 3% dos pacientes que colocam a prótese.
Ainda que isso represente a minoria dos pacientes, o risco existe e não é desprezível.
A infecção pode envolver um tratamento prolongado e a necessidade de cirurgias adicionais, de forma que o paciente deve estar ciente do risco e preparado para o tratamento.
A dor irá de fato melhorar?
A cirurgia para a colocação de prótese no joelho tem como objetivos principais a melhora da dor, do arco de movimento, da estabilidade e, por fim, melhora da capacidade funcional para participação nas atividades do dia a dia, trabalho e atividades recreativas.
Os resultados são surpreendentes para a maior parte dos pacientes que sofrem com artrose avançada no joelho, com melhora significativa em aproximadamente 80% deles. Dois anos após a cirurgia, entre 80 e 85% dos pacientes estão satisfeitos com a cirurgia realizada.
Ainda assim, a cirurgia está longe de deixar o joelho normal, e um estudo realizado com pacientes dois anos após a cirurgia demostrou que os pacientes subestimaram o tempo de recuperação, que 85% acreditavam que ficariam completamente sem dor, o que ocorreu em apenas 43% dos casos e que 52% pensavam que não haveria limitação funcional para as atividades usuais, enquanto isso se concretizou em apenas 20%.
Com as informações acima, buscamos oferecer aos pacientes alguns parâmetros que possam ajuda-lo a decidir pela realização ou não da prótese.
A decisão, porém, cabe muito mais ao paciente e seus familiares do que ao médico cirurgião. Não deve ser uma decisão precipitada e tomada no desespero de uma crise de dor: a dor da artrose é oscilante, de forma que o comportamento da dor ao longo dos últimos seis meses é mais importante do que a dor no momento da consulta.
O Dr João Hollanda é médico ortopedista especialista em cirurgia do joelho e traumatologia esportiva. Trabalha atualmente como médico da seleção Brasileira de Futebol Feminino. Maiores informações em www.ortopedistadojoelho.com.br